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DIA DE FINADOS

Para muitos o dia de finados é um dia como outro qualquer, mas nem todos pansavam e pensam assim.

Meus pais Alzemiro e Geny organizavam seus dias da forma que lhes era possível, aos 14 anos de idade e até mesmo antes dessa idade, a gurizada já fazia algo em busca do sustento ou do complemento deste. Empalhar garrafão foi o ofício de quase todos naqueles árduos tempos.

Preocupados em onde sepultar seus mortos, Alzemiro e Geny adquirem em meados dos anos 60 um terreno no Cemitério Público Municipal de Caxias do Sul e lá, Alzemiro, com suas próprias mãos e seus conhecimentos do ofício de pedreiro, constrói um "túmulo", aonde posteriormente viria a ser sepultado.

No ano de 1967, já desgastado fisicamente devido ao sofrimento que a artrite reumatóide lhe causava, e já sendo dia 1º de novembro, portanto véspera de finados, Alzemiro não se conteve.

Apanhou uma trincha, dois galões de tinta turmalina na cor branco, alguns panos, um balde, um pincel de aproximadamente uma polegada, outro de aproximadamente três polegadas e juntamente com este que então contava com seis anos de idade, se dirigiu ao cemitério.

Lá chegando, foi interpelado pelo administrador, que lhe informou da impossibilidade técnica de que se efetuasse qualquer tipo de pintura nos jazigos, sendo permitida apenas a limpeza dos locais.

Então, Alzemiro e Luiz Henrique se dirigiram ao túmulo dos Rocha, já passava das 17:00 horas (o cemitério fechava às 18:00 horas) e Alzemiro, como uma lebre passou um pano no túmulo e imediatamente iniciou a pintura.

Para se precaver de qualquer surpresa, colocou Luiz Henrique de plantão a uns 50 metros de distância, de onde poderia avistar qualquer movimento da vigilância. Passados uns 30 minutos, Luiz Henrique dá o alarme de que o administrador se aproximava.

Imediatamente, Alzemiro colocou todos os pertences dentro de uma sacola de pano e saíram em desabalada carreira no sentido oposto ao que o administrador se deslocava.

Correram uns vinte metros na direção de uma cerca de arame, e naquilo um cão vira- latas que habitava o cemitério varou por um orifício, Luiz Henrique não pensou duas vezes e se enfiou buraco afora. Alzemiro, que vinha logo atrás, se atracou na mesma passagem, mas não saiu ileso, colecionou em seu já frágil corpo mais algumas cicatrizes, pois ao passar pelo arame farpado teve parte de seu braço direito rasgado pelo metal pontiagudo, mas o trabalho estava feito.

Um dia após esta epopéia, já na tarde do dia de finados, Alzemiro, Geny e os filhos foram ao cemitério como tradicionalmente faziam todos os anos, e nisso chega o administrador que disse:

"Estranho né seu Rocha, aqui no cemitério agora os mortos levantam durante a noite e pintam os túmulos..."

Alzemiro sorriu e a vida continuou...


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