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DONA MARIA

DONA MARIA

Vivemos agitadamente em um mundo cruel onde ninguém nem nada são respeitados, onde os valores humanos, pessoais, de cidadania e outros mais são literalmente patrolados a todo o momento e, em determinadas situações se quer são reconhecidos.

Nestes dias, não temos paciência, afirmamos não ter tempo para sentar, ouvir, ponderar e muito menos recuar. Vivemos o momento de ir em frente e como já afirmou o personagem do desenho animado Buzz Lightyear do comando estelar, imaginamos ficticiamente estar seguindo “avante, ao infinito e além.”

E é neste contexto que vivemos e me pergunto por vezes se isto realmente pode ser chamado de vida, mais ainda quando nos referimos a ela como sendo uma forma inteligente.

Não partilhamos os momentos com quem amamos, não acompanhamos se quer o desenvolvimento de nossos filhos, não fazemos aquela visita tão desejada, não apertamos a mão daqueles a quem dizemos ter apreço, não abraçamos, não beijamos, não...., nada, não.....

E quando nos damos conta tudo passou, ou está passando em uma velocidade vertiginosa, como se os dias não durassem mais do que dez ou doze horas, fazendo com que os compromissos por nós mesmo criados, com que as tarefas por nós mesmo agendadas se transformem em uma verdadeira gincana, onde somos compelidos a cumpri item após item sem amealhar ganho pessoal algum.

Imagine, em um mudo cruel como o que criamos para nós mesmos existiu uma pessoa, sim existiu, pois esta semana o mundo perdeu, perdeu Maria Ribeiro da Silva Tavares, que em 1942 fundou o Patronato Lima Drumond em Porto Alegre e, desde aquela época se dedicava com exclusividade na tentativa de recuperar apenados do sistema prisional, e foi vitoriosa.

Dona Maria contrariou todas estas variáveis, contrariou os verdadeiros labirintos que criamos e nos quais nos perdemos, contrariou até aquilo que chamamos de princípios, pois os dela eram outros, baseados na confiança, solidificados na dignidade da pessoa humana, artigo em extinção por estes não tão modernos tempos.

O Patronato criado por Dona Maria foi citado como exemplo pela Anistia Internacional e não foi criado como qualquer cabide de emprego dos moldes atualmente vigentes em nossa sociedade.

Viúva, Dona Maria utilizou parte de seus próprios recursos para dar o pontapé inicial na obra e com o tempo, os beneficiados pelo projeto angariavam os fundos necessários para a manutenção e ampliação do vitorioso projeto.

Lá não existem celas, existe confiança, lá o índice de evasão é mínimo, existe responsabilidade, lá não existe superlotação, existe respeito. Dona Maria acreditava nas pessoas e na sua recuperação, a final nos nascemos maus ou nos tornamos maus ao longo de nossa existência?

Pelo disposto no inicio deste modesto texto, nos tornamos cruéis, implacáveis conosco mesmo ao longo de nossa existência, eu sou o meu próprio carrasco.

Dona Maria mostrou ao mundo a possibilidade do ser humano, por meio de sua personalidade ser firme em suas atitudes, ter autoridade, mas manter acesa a lamparina do amor, que em muitos de nós já caiu no esquecimento por não termos tempo.....

Dona Maria mostrou ao mundo a possibilidade de recuperar pessoas, a possibilidade de receber a escória da sociedade e devolver a ela, sociedade um cidadão na plenitude de suas ações e direitos.

Dona Maria mostrou ao mundo a possibilidade da reinserção social e que ela é possível sim, basta ter seriedade, princípios e determinação.

Perdeu o Patronato a sua idealizadora, perdemos nós uma pessoa ímpar em todos os sentidos, perdeu o mundo uma pessoa sem igual, mas ficou o exemplo, que pode e deve ser seguido, ou quem sabe em nossa correria diária ser lamentado, lamentado por não termos aproveitado as ideias e as ações da Dona Maria como deveríamos ter aproveitado.

Luiz Henrique da Rocha

25/09/2014


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