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A TRISTE REALIDADE DO POVO FRONTEIRIÇO

  • lhrocha
  • 3 de ago. de 2011
  • 3 min de leitura

A TRISTE REALIDADE DO POVO FRONTEIRIÇO

Em minhas andanças, recentemente tive a oportunidade de passados trinta e dois anos, retornar à cidade brasileira de Chui, separada de sua gêmea uruguaia Chuy apenas por um canteiro.

Imaginemos a Avenida Júlio de Castilhos em Caxias do Sul. O lado norte seria o Brasil e do meio do canteiro para o lado sul, o Uruguay. E é neste clima de paz e de harmonia que a vida daqueles seres continua, quase como se o tempo tivesse parado.

Cabe ressaltar que logo após a cidade de Guaíba, não encontramos mais pedágios e ao contrário do que sempre escutamos, a estrada é muito, mas muito boa mesmo. Sinalizada, sem buracos e sequer remendos. Um exemplo para aqueles que apostam nos pedágios como única forma de manter uma estrada em boas condições de trafegabilidade.

Bem, mas voltando ao “elo perdido”, cheguei ao Chui no final de uma tarde de temperatura agradável, e após os procedimentos corriqueiros na portaria do hotel, me pus imediatamente em direção ao marco divisório, pois a curiosidade de mais de trinta anos estava no ápice.

E lá chegando às dúvidas brotaram pelas orelhas, do lado de cá, na Avenida Uruguai, a maioria das casas ainda era a mesma de mais de trinta anos atrás, creio que até com a mesma tinta na parede, ou melhor, o que restou daquela já surrada pintura.

Mais adiante, o que restou de uma grande churrascaria da década de oitenta, e em uma “casinha” discreta, pequena, acanhada, surrada, quase se esfarelando está a delegacia de polícia da cidade brasileira. Confesso que não tive coragem de parar para visitar, pois não sei como aquilo ainda está em pé.

A maioria das palavras que anunciam, os negócios em território brasileiro estão escritas no idioma do país vizinho e os produtos vendidos remontam a meados do século passado. São ferramentas empoeiradas, rastros de tecnologia ultrapassada, roupas de quinta categoria, calçados que mais parecem saídos de um cenário de filme de época, e ai por diante.

Do lado de lá, alguns anúncios também usam o idioma uruguaio, se bem que atendendo a tendência do comércio internacional, a maioria já ostenta grandes e chamativos luminosos em inglês e os produtos vendidos... bem, estes contrastam absurdamente com os do lado de cá.

São lojas muito bem montadas, informatizadas, com produtos da mais alta tecnologia e a preços para lá de convidativos para a nossa moeda. São roupas de grife, bebidas renomadas no mercado mundial e ai por diante.

A rua... bem, a rua do lado de lá se chama Avenida Brasil, e é asfaltada, limpa, segura... nem parece que o “nosso real” é que sustenta tudo aquilo.

Do “lado de cá” não se vê crianças indo a escola, o que se vê são crianças molambentas, misturadas com cães que perambulam por todos os lados e se enfileiram em frente as casas amarronzadas pelo tempo e pela sujeira.

Do “lado de lá” existem cinco escolas públicas e as crianças, todas uniformizadas frequentam a partir do que chamamos de jardim de infância, mais quinze anos de escola até poderem prestar o exame vestibular.

Voltando para o “lado de cá” vejo o prédio da Câmara de Vereadores, acanhado, quase o que na campanha chamamos de “uma peça”, algo que não se retrata mais nem em novela de época, e a Prefeitura.... a Prefeitura também parou no tempo, parou na falta de recursos, parou no esquecimento, parou na dificuldade e talvez até na falta de vontade.

Mas e as dúvidas... elas continuaram. A pobreza de nosso lado contrasta com os valores cobrados do outro lado e que mesmo assim são muito para os “nossos pobres”. Os brasileiros que ali circulam, não encontram nada para fazer do “lado de cá”, tudo o que gastam é do “lado de lá”.

Aqui fica somente a miséria, o esquecimento o desprezo, já “do lado de lá” o dinheiro é apresentado aos montões e lá fica, e lá é distribuído, e lá gera riqueza... mas nós bradamos aos quatro cantos que a “nossa moeda é mais forte” que a deles....

... a, ia me esquecendo, do “lado de lá”... a população é de pouco mais de três milhões de pessoas e eles foram o quarto colocado na última copa do mundo de futebol – nós ficamos pelo caminho, duas fases atrás - já na última Copa América de futebol eles foram Campeões e nós.... bem nós com quase duzentos milhões continuamos como uma bússola sem ponteiro, no esporte e nos destinos de nosso povo, especialmente o fronteiriço.

Em uma placa junto à divisa os dizeres “AQUI COMEÇA O BRASIL” quem sabe, o mais correto não seria “AQUI O BRASIL SE TERMINA”, pois nós vamos, visitamos, gastamos e voltamos para a nossa realidade, muito diferente da encontrada pelo povo fronteiriço.

Luiz Henrique da Rocha

03/08/2011


 
 
 

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