O VALOR DE UM ESBARRÃO
- lhrocha
- 21 de jun. de 2004
- 3 min de leitura
O valor de um esbarrão !
A primavera, abandonada à sua própria sorte junto à porteira de uma fazenda, vivia florida. Produzia aos borbotões, rosáceas, bergeras, monocotiledôneas, prímulas, cravinas, compostas, cactáceas, petúnias.....
Sua exuberância, sua beleza, sua floração, garbosidade visual e a tenacidade do perfume exalado era tamanha que chamava a atenção até dos mais insensíveis.
De tantos comentários sobre a primavera, começamos a cuidar dela. Tiramos o mato que tinha à sua volta, afofamos a terra e colocamos adubo, em fim cuidamos dela como nunca.
Ano após ano, sua floração foi diminuindo, seu perfume se confundindo com os outros odores oriundos da fazenda, suas cores pouco ou nada lembrando os tempos áureos até que chegou um ano em que quase não foi notada.
Desesperados, chamamos um especialista, um engenheiro agrônomo paisagista e lhe contamos o caso.
Nossa pergunta era:
O que aconteceu com a nossa primavera que nunca mais floriu como antes?
Ele nos disse: “Ela não deu mais flores por que não precisa mais. Agora ela está muito bem cuidada, muito saudável, confortável, segura.... as árvores dão flores para sobreviver, para preservar a esécie. Temos filhos para que eles nos completem, para passarmos através do tempo, ela, ela quando sentia-se ameaçada, floria muito, esbanjava odores e cores para assim garantir a sua sobrevivência. Agora adubada, cuidada, cercada, protegida, segura de si e sentindo-se tranqüila, ela crê não precisar mais florir.”
E ele ainda nos disse: “Vocês lembram dos antigos que davam machadadas nos troncos das mangueiras para que elas dessem mais frutos? E de fato, elas incrivelmente produziam mais frutos porque reagiam aquela agressão que as ameaçava.”
Ao ouvir a explicação daquele agrônomo ficamos pensando se com o ser humano não acontece à mesma coisa. Será que o excesso de conforto ou de segurança não pode produzir em nosso interior a sensação de comodidade e nos impedir de “produzir os frutos” que por certo produziríamos se estivéssemos ameaçados em nossa sobrevivência?
Será que um pouco de agitação ou de preocupação com nós mesmos não faz com que saiamos da acomodação, do conforto excessivo, da certeza de estarmos com a vida resolvida ou de que todos os nossos problemas são absolutamente administráveis, que já transpomos a todos os desafios que nos foram impostos ou que nós mesmos nos impusemos, que nossa idade ou o momento de nossas vidas não nos permite mais avançar, ou que já avançamos tudo o que imaginávamos poder avançar?
Será que na busca de um pseudoporto seguro não estamos deixando de produzir os frutos aos quais tanto nos preparamos para produzir, ser á que não estamos deixando expectativas sobre nós mesmos, será que nem a nós mesmos estamos conseguindo exalar o perfume da primavera de nossas vidas?
A acomodação pelo excesso de conforto e a ausência de desafios pode levar-nos ao marasmo, à perda do real sentido de nossas vidas, ou seja, produzir e cada dia mais, produzir novos frutos, com mais qualidade com maior objetividade e se possível com maior quantidade, ao invés de ficarmos estagnados, e com certeza, sem a adrenalina necessária para quer possamos nos sentir úteis, verdadeiros e seguros.
Uma atitude de desafiar a si mesmo com novos projetos, com novas perspectivas de vida de vida areando as idéias e adubando-as para que novas possam brotar, isso talvez faça com que a nossa primavera interior mantenha a sua trajetória de sempre, após um outono..., um inverno..., retomar sua trajetória, com toda a energia e florir os campos para que assim possamos continuar a dar o real sentido de nossas vidas.
Luiz Henrique
21 de junho de 2004
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