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PERCORRENDO A CIDADE

  • lhrocha
  • 9 de nov. de 2002
  • 3 min de leitura

Lá ia o menino, calças curtas, suspensório, sapato colegial, meia branca, cabelo cortado “cadete” e coberto por uma camada de glostora, lá se ia o menino, com uma camisa quase transparente, de mangas curtas, feitas de um certo tecido chamado de “volta ao mundo”, lá se ia o menino alegremente carregado pela mão de seu pai.

Na primeira parada os olhos do menino se enchiam de brilho ao ver as maçãs que o “Mercado Público” exibia, e o orelhudinho, então abria um largo sorriso ao receber generosos e perfumados pedaços, partidos por um velho canivete, olhos ávidos ouvidos aguçados, procuravam de onde vinha aquele ronco... ronco do potente motor de um flamante DKW.

E lá se ia o menino, pela mão firme de seu pai, observando.. olhando.. aquele ônibus “narigudo” que trazia o nome dos Hoffmann passavam pela chapelaria, que ficava na Visconde, um pouco acima dos Fasoli, ali o menino esbugalhava os olhos ao ver a beleza dos garbosos chapéus de feltro.

A próxima parada era a Loja Calcagnotto, que exibia a novidade dos refrigeradores da marca Frigidaire, “incrivelmente”. E lá se ia o menino sorvendo aqueles momentos como se os últimos fossem, passavam pela Prefeitura, onde o atendimento se dava logo nos primeiros degraus, onde um obeso senhor, com um lápis atravessado ao lado da orelha, anotava as solicitações e as encaminhava ao Capataz, há a Prefeitura era na Visconde de Pelotas, onde hoje se encontra o Museu Municipal, o consultório do Dr. Ordováz ficava mais adiante na esquina com a Av. Júlio de onde podíamos avistar o prédio do Circulo Operário.

E lá se ia o menino, e já na Praça Rui, que um dia já tinha sido Dante... o menino observava as calçadas, que caprichosamente formavam cachos de uva, a beleza do Banco do Estado, do Cine Guarany, do Central.. mas derrepente a calma da Sinimbú era cortada pela “Sandu”, a ambulância.

E lá se ia o menino, olhos acesos, passavam pelo prédio dos Correios e Telégraphos, pela Av. Júlio, pela “Estrelinha”, “o point da moda infantil” daqueles tempos.

No caminho de volta passavam pela Garagem Modelo, que ficava na esquina do Hospital Pompéia, e lá se ia o menino, suado, empoeirado, primeiro uma parada nos “sortidos” Armazéns de Secos e Molhados onde se encontravam os itens para a toda a família, já nos fundos do Pompéia entravam na “Padaria Moderna” para apanhar algumas balas “azedinha”, mas o melhor vinha agora, a última parada era na Casa de Bebidas Irmãos Salvador, que ficava quase na esquina da 20 de Setembro com a Mal Floriano, onde se tomava uma Grapette, que era saborosamente sorvida na palha de trigo, e quando a palha estava em falta, o jeito era fazer dois furos na tampa de aço, agora tudo estava completo e tínhamos dois caminhos para retornar a casa, um era pela Vila Operária, onde a Moreira César era apenas um “carreiro”, o outro era pelo curtume do “Seu Ari”, perto da Vila Sesi e chegar na “casinha” cercada de madeiras retilíneas, e enfeitada por bem cuidados pés de roseiras, que coloriam e perfumavam a entrada do chalé dos Rocha, e ai vinha uma advertência – “cuidado com a lagoa guri”, estávamos em casa. Bons tempos aqueles, em que o menino orelhudinho era inocente, a família era composta pela Therezinha, Alaor, Manoel, Eleni, Jarbas, Paulo pelo “orelhudinho”, a Dona Geny e o Seu Alzemiro, bons tempos aqueles em que éramos nove, em que enviávamos uma carta para São Chico e ela demorava cinco dias para chegar. Há já ia me esquecendo, as horas eram pontualmente marcadas pelo compasso do relógio da Eberle, e ainda escutávamos o garboso apito da Gethal, que ficava “lá” na colônia, bons tempos aqueles.

Luiz Henrique da Rocha

Coluna Opinião – Jornal Pioneiro 09/11/2002


 
 
 

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